27.6.08

"Pecado", "manipulação"

Essas foram duas das palavras usadas pelo crítico da Folha Ricardo Feltrin para falar de Personal Che em seu videocast semanal sobre cinema. Segue o texto completo:

"Esse filme [Personal Che] faz uma interpretação do chamado arquétipo Che Guevara em várias regiões do mundo. O único pecado desse documentário, se é que podemos chamá-lo assim, é um breve trecho dele que tem um viés muito manipulativo. Esse trecho leva o espectador a uma comparação inexistente sobre as bases de luta do guerrilheiro argentino e a aberração chamada Adolf Hitler".
O videocast, se alguém quiser ver, é o que segue abaixo.



Não estou de acordo em absoluto com a caracterização. Na verdade, acho-a ingênua, ainda mais levando em conta que Che também é comparado a Cristo, a califas árabes e a Robin Hood ao longo do filme. Mas que isenção tenho? Deixo, portanto, o julgamento para o leitor: abaixo está a parte a que o crítico se refere.


Nazis from Douglas Duarte on Vimeo.

Quem quiser se manifestar tem nesse blog um foro aberto. Isso inclui a Feltrin, que está convidado a embasar suas tão peremptórias 60 palavras com quantas outras quiser.

Viva o debate!

26.6.08

Adelante, compañero Darwin!



De uma marca de camisas. É.

23.6.08

Disseram por aí

Uma rápida repassada no que se disse sobre Personal Che nas últimas semanas:

• Na Folha (para assinantes), Pedro Butcher faz o devido paralelo entre a idéia do filme e as idéias do francês Roland Barthes:

"Se Roland Barthes (1915-1980) estivesse vivo e escrevesse uma atualização para seu indispensável "Mitologias", publicado pela primeira vez em 1957, certamente incluiria um capítulo sobre Che Guevara. O documentário "Personal Che" pode não citar Barthes diretamente, mas é uma minuciosa análise da construção de um mito contemporâneo à moda do semiólogo francês. De forma complexa e multifacetada, o filme do brasileiro Douglas Duarte e da colombiana Adriana Mariño percorre o mundo para investigar as várias 'releituras' sofridas pela figura do revolucionário argentino."
• O crítico Ricardo Calil arremata dois bons textos curtos sobre o documentário. No Guia da Folha, ressalta o "ângulo inusitado" escolhido pelo filme. No seu blog, expande o conceito:
"Com [seus] personagens, “Personal Che” poderia ser apenas uma reportagem jornalística competente e curiosa. Mas ele torna-se um belo documentário nos momentos em que os diretores desconstroem a visão dos entrevistados sobre Che. Como na cena em que eles dizem à camponesa boliviana que Guevara era ateu e materialista, o que provoca um silêncio interminável. Ou quando mostra fotos de Che morto ao taxista cubano que só conhecia sua imagem de guerrilheiro destemido. Nesses momentos, “Personal Che” alcança o que poucos documentários conseguem: dar a seus personagens uma nova compreensão da realidade e registrar o exato instante em que isso ocorre."
• No Estadão, Luiz Carlos Merten escreve:
"No filme, Che é ídolo tanto de camponeses bolivianos e de jovens que ainda sonham com a revolução quanto de skinheads que o comparam a Adolf Hitler. Mais do que revelar a verdade por trás do mito, Douglas e Adriana seguem o caminho inverso e exploram o mito por trás da verdade.
• No Globo, o bonequinho de Carlos Alberto Mattos, mestre do obrigatório DocBlog, aplaude de pé e afirma:
"Muitos filmes já foram feitos sobre o mito Che Guevara, e isso faz arte do mito. Mas poucos têm a originalidade e o frescor desta atração."
• Nelson Gobbi, do JB, deu matéria e resenha sobre o filme. Nessa última, diz:
"O grande mérito de Personal Che é deter-se na imagem [de Che] e suas incontáveis variações, passando ao largo da história do guerrilheiro. Dessa forma, a dupla mostra como ela é apropriada em várias partes do mundo. (...) Evitando manipulações, o documentário registra a história sendo reescrita diariamente.
• Já para Alysson Oliveira, da Reuters, o mérito do filme é "levantar o debate e não se preocupar em desvendar Che Guevara":
"O que o filme nunca se propõe é desmistificar a figura de Che. Pelo contrário, os diretores trabalham questionando as imagens conhecidas e introduzindo algumas novas -- como um musical libanês que conta a vida do guerrilheiro, ou um político de Hong Kong que só usa camiseta com a foto de Korda, entre outros, ampliando o leque da discussão."
• Em outros lugares, Geo Euzébio, do CinePlayers, se pergunta "Como pensar sobre um símbolo que deixou de ser homem?" e me questiona a respeito da já famosa "pergunta do ateu"; Olívia Mendonça, d'O Dia, detalha os bastidores do filme; a Zé Pereira e a RollingStone comemoram a (breve, é verdade) carreira que Che deu nos blockbusters hollywodianos; Amanda Lourenço, da Revista de Cinema, diz que o doc "prova que Che Guevara ainda vive nos dias de hoje"; e finalmente o bizarricérrimo site da Agência FM Network - Notícias do Mundo crítica o filme por "manter a homossexualidade do médico-terrorista intocada".

O que dizer? Se soubéssemos que ela existia podíamos até tentar tocá-la!

Adendo posterior: Inadvertidamente não incluí a crítica de Luiz Zanin Oricchio que acompanhou a matéria do Merten, no Estadão. Um pedaço:
"A dupla não teme confrontar a beata que acende uma vela para o Che com a revelação de que o revolucionário era marxista e ateu. Ao skinhead neofascista, revelam, como se isso fosse necessário, que o Che era o modelo acabado de homem de esquerda. Dessas dissonâncias entre o que era o homem e no que se torna a lenda, nasce a riqueza contrastada do filme."

17.6.08

O santo guerrilheiro contra o dragão de Hollywood

Tremei, estúdios ianques! Che Guevara acaba de dar um murro no queixo do Tio Sam e seu monstro verde. Segundo dados do Boletim do site Filme B, Personal Che, com seus 753 ingressos por cópia, ficou atrás apenas de Fim dos tempos (com 1.166) e O incrível Hulk (com 783) em seu primeiro fim de semana em cartaz.

A despeito disso, o filme ficou em vigésimo lugar nas bilheterias. Faz alguma diferença, claro, estar em apenas uma sala no Rio de Janeiro e não 181 em toda a federação, como Fim, ou 400 (!!!), como Hulk. É o único documentário no ranking, aliás.

Nessa sexta-feira o filme estréia em São Paulo e poderá ser visto no HSBC Consolação, Espaço Unibanco e Cine Bombril. Neste último deve haver debate. Informo através do blog quando sair a confirmação do dia.

Pra cima deles! Ajudem a divulgar!

16.6.08

E seguindo com as apropriações...

Aí vai uma genial.

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13.6.08

Bem-vindos!

O artigo de Carlos Alberto Mattos sobre Personal Che no Doc Blog já está gerando polêmica. Até esse momento, 24 comentários, majoritariamente criticando o filme. Sejam bem-vindos para debater através dos comentários deste blog ou através do site oficial do filme, www.personalche.com.

12.6.08

Tá chegando a hora


Trailer Personal Che
from Douglas Duarte on Vimeo.

Personal Che finalmente chega às telas brasileiras. Sexta-feira, 13 de junho no Rio, dia 20 em São Paulo e em breve em outras capitais. O esquema de distribuição é de guerrilha, como não podia deixar de ser.

Ajude a gente a divulgar o filme! Discuta qual é seu Che no site oficial e no blog, envie o trailer para os amigos, baixe o cartaz, imprima e grude na sua rua, veja fotos de produção, remixe a música-tema do filme, participe da comunidade no orkut e leia mais a respeito das filmagens no press book. E entre em contato!

Aqui estão os links, se quiser espalhar por email:

site | www.personalche.com
blog | personalche.blogspot.com
trailer | vimeo.com/1160951
cartaz | www.douglasdm.com.br/veja/posterpersonalche.pdf
fotos | picasaweb.google.com/douglasdm/PersonalChe02
música | www.douglasdm.com.br/ouca/personalchemonareta.mp3
orkut | www.orkut.com/Community.aspx?cmm=36062170
pressbook | www.douglasdm.com.br/leia/personalchepressbook.pdf
email | personalche@gmail.com

Deu pra entender?

Há cerca de três semanas, fiz uma projeção de Personal Che para um pequeno grupo de convidados do Ibase. Ainda que o DVD do filme tenha dado problema (mídia demoníaca...), a conversa foi ótima. Aqui você pode ver trechos da entrevista feita pelo portal deles. Não sei se me expliquei bem, mas tentei.

9.6.08

Apropriando-se de Ernesto

A semana passada foi rica em termos de apropriações de Che. Fui rápido demais no gatilho e já saí publicando o Che Grifado de uma marca de pilot indiana. Se houvesse esperado, poderia engrossar o caldo com coisas saborosas que encontrei dias depois.

Para comemorar o 80º aniversário de nascimento do argentino, o Centro de Estudios Che Guevara, chefiado pela viúva de Che, Aleida March, lançou um site. Há diversos textinhos e áudios de e sobre o argentino, mas basicamente coisa conhecida e que não impressiona quem já leu um pouco sobre o homem (embora seja interessante notar como o texto de Frei Betto recruta Guevara para a causa ambiental). O que gostei mesmo no site foi a galeria de cartazes em homenagem aos 80 anos.

O site infelizmente não dá mais informações sobre quem são os autores, mas reconheci alguns nomes de cartelistas cubanos (Arnulfo Espinosa, Pepe Menéndez) entre eles. Fiz um favor ao leitor do blog e descontei todos os exemplos que caíram na tentação fácil de fazer um trocadilho entre aniversário e homenageado estampando "oCHEnta" em suas obras. Eram, acredite, muitos. A seguir, os melhores (clique nas imagens para ampliar).

O bom e velho conceito de que Che é algo como um super-homem fica claríssimo no trabalho de Eduardo Moltó. A boa nova é que alguns já usam de irreverência para lidar com o mito, caso de Fabián Muñoz, com um cartaz tão simples quanto potente. Como entender sua frase? Significa que o mito permanecerá jovem ou que a "geração Che" não faz mais parte do imaginário cubano?



Novos elementos entram na iconografia, sinal de que o mito ainda vai ganhar fôlego com a contribuição de milhares de artistas que buscam fazer coisas novas com as velhas imagens de Che. Dois dos exemplos mais interessantes para mim foram a pacífica nuvenzinha de Orlando García e a genial pegada de Eduardo García. Seriam irmãos?



Depois de anos sendo pacificada, como diz o historiador de arte David Kunzle em Personal Che, a imagem volta a se rearmar. O tema meio anacrônico ganha roupa modernosa e sutil no diseño y colores de José Pepe Menéndez e tem a dureza quebrada por Luis Noa pela menção ao amor que deveria guiar todos os revolucionários, nas palavras de Guevara (clique em ambos para ampliar os detalhes).



Embora um ou outro ainda apele às armas para celebrar o guerrilheiro, muitos preferem uma interpretação mais pessoal e livre. Rodney Ramos o viu colado à pele, enquanto Eduardo Marín fez de Che o insuspeito padroeiro dos designers mordazes. :-)



Já ia me esquecendo de outras apropriações. A dica veio num comentário deste blog e vale a visita: é o Che Feio, que reúne imagens horrendas do revolucionário bonitão. Antes que achem que eles são militantes anticomunistas, já aviso que os autores do site também tocam o Mickey Feio, blog cheio de imagens asquerosas do rato proto-imperialista dos neo-liberales Estúdios Disney. Abaixo, uma palhinha: o Che (muito!) feio de Ricardo Foganholo.